sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

A ferida está sendo curada

Existem geralmente duas maneiras comuns[1] dos cristãos se agarrem à ideia de que "o fim está próximo" e consequentemente o retorno de Cristo. A mais comum é também a que mais se aproxima do pensamento das religiões arcaicas[2], que é ver sinais na natureza que indiquem o retorno do messias. Isso gera um tumulto desnecessário dentro da área escatológica toda a vez que um terremoto, tsunami ou coisa semelhante acontece pelo mundo. Outra forma mais correta de encontrar "sinais" de que "Cristo está voltando" estaria na análise não na natureza, mas no homem. Digo mais correta devido a bíblia fundamentar muito mais esse ponto de vista do que o primeiro.

Acontece que esta última carrega consigo uma possibilidade de erro tanto quanto a primeira e pode causar tumulto desnecessário em relação a "alertas para últimos dias" e coisa do tipo. Por exemplo, afirmar que o casamento gay é um indicativo para a volta de Jesus é de um tanto absurdo. Até porque sabemos que o pior ainda não chegou, quando se manifestarem massivamente os ativistas da pederastia e pedofilia aí a coisa começa a ficar feia...


Onde eu quero chegar... Nessa postagem (clique aqui) eu esclareci o meu ponto de vista a respeito da ferida que a besta recebeu de espada, a qual coloquei como sendo o evangelho de Cristo e o estabelecimento do seu reino, da crucificação à parúsia. Nesse contexto, a cura da ferida seria a eliminação da verdade do evangelho no mundo contemporâneo, culminando na manifestação do cristo cósmico como a resposta para o tempo apostata que se figurou a partir dessa negação.
Em entrevista à psicóloga Valerie Tarico, Winel disse que os sintomas do STR inclui, além da ansiedade, depressão, dificuldades cognitivas e degradação do relacionamento social. “Os ensinamentos e práticas religiosas, por vezes, causam danos graves na saúde mental.” 
“No cristianismo fundamentalista, o indivíduo é considerado depravado e tem necessidade de salvação”, afirmou. “A mensagem central é ‘você é mau e merece morrer, porque o salário do pecado é a morte. [...] Já tive pacientes que, quando eram crianças, se sentiam perturbados diante da imagem sanguinolenta de Jesus pagando pelos pecados deles.”
(Daqui)
O objetivo dos discursos anti-cristãos, como exemplo, o das minorias, quando estas veem a igreja como aquilo que bloqueia a aquisição de seus direitos, não se dão com o intuito de suavizar as posições desta em relação aos mesmos. São na verdade partes de um processo muito maior que é o de "abolir todas as verdades absolutas". A religião, em sentido estreito 'o Cristianismo', como porta-voz de uma verdade que se mostra enraizada no absoluto deve então ser minada de todas as maneiras que se mostrarem possíveis. No texto acima o cristianismo não se torna mais cristianismo se não estiver sendo seguido por um "fundamentalista" omo adjetivo.

Nesse post (clique aqui para ir até ele) em que tratei do que chamam de fundamentalismo cristão, o fiz por estarem colocando o cristianismo como fundamentalista na medida em que esse se mostrava contrário ao homossexualismo. Mesmo ai, vemos uma acusação "com causa", ou seja, se uma igreja não se mostrasse oposta ao movimento LGBT, essa logo não seria "fundamentalista". Mas no texto que apresentei acima, quando o cristianismo se torna fundamentalista pelo fato da mensagem central ser o homem precisando de Cristo para alcançar a salvação, não sobra uma igreja sequer que não seja fundamentalista, pois se há uma igreja, por mais apostata em alguns sentidos que essa seja, que não acredite que Cristo seja a única salvação para o homem pecador, essa não é de fato uma igreja cristã.

A condenação do homem a partir do pecado, seja ele qual for, é proveniente da lei. Vejamos como exemplo a imagem deste outdoor ao lado, que é motivo para acusação de homofobia. A exortação em evidência é a passagem de Levítico, que compõe o cânon referente às leis dadas por intermédio de Moisés. A condenação só há para quem está sob o julgo da lei. A única maneira de sair desse julgo é mediante a graça de Cristo, mas para isso é necessário que o homem reconheça o estado de pecador (pela lei vem o conhecimento do pecado. Rm 3:20), para que esse possa vir a ser justificado pela graça. Essa é a lógica da salvação, é simples. Mas quando a "imagem sanguinolenta de Jesus pagando pelos pecados" se torna então o motivo para condenar o cristianismo ao hall das religiões do mal, já não há nada o que fazer.
E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fimMateus 24:14
Em suma, o que se está colocando em cheque (fundamentalismo) não é o evangelho das aparências, da acusação e que tende à lei mosaica. Mas o que se está a fazer é por descrédito total da graça de Cristo através de seu sacrifício na cruz. Quando isso acontece perde-se a possibilidade da pessoa alcançar o reino pela fé no evangelho, mesmo esse evangelho já tendo sido pregado.

Notas
[1] Que só foi possível após a introdução do pensamento iluminista na cultura ocidental. Ver: A imanentização escatológica e o iluminismo.
[2] Profecias como as luas de sangue nos remetem aos tempos que os antigos viam manifestações naturais como intervenção direta das divindades. Ver: Sinais para o que?

sábado, 22 de fevereiro de 2014

O deus do anticristo (3)

Na primeira parte (VER), o deus do anticristo é exposto tendo como ponto de partida as religiões arcaicas e seus fragmentos na contemporaneidade. A segunda parte (VER), por sua vez, tem como intuito apresentar o deus do anticristo em uma conotação mais científica, da percepção pré-socrática do divino na natureza à exploração científica na parte obscura do universo. Nessa terceira parte iremos nos aprofundar mais e nos apoiar nas teorias psicanalistas freudianas a respeito da origem da religiosidade. Antes de tudo é importante ressaltar que com "anticristo" não estou me referindo a um grande líder mundial do fim dos tempos como é costume atribuírem, mas trata-se da sociedade em geral que mais tarde elegerá um executivo mundial, mas este apenas como um reflexo e consequência e não como o fator principal.

Freud, ao buscar entender a fonte da religiosidade, em seu ensaio O Mal Estar na Civilizaçãofez uso da expressão "sentimento oceânico".* Tal expressão refere-se a uma sensação de eternidade, de algo oceânico, ou seja, sem fim, à vista dos homens. Para Freud, quando buscamos este sentimento oceânico, estamos retornando a uma época que tínhamos uma sensação de comunhão plena com o mundo. Essa é a primeira fase da vida, quando o bebê sai do ventre da mãe. Quando o feto ainda está no ventre materno ele não tem a consciência de ser, o que não muda muito nas primeira semanas após o parto. Nesta fase, o bebê não sabe diferenciar o que é ele e o que é o mundo externo. Somente com o passar do tempo a criança vai aprender a fazer a distinção do que é o seu ego (Eu) para o que é o mundo exterior.

Baha'u'llah em seu livro Os Sete Vales afirma que o peregrino em busca do Bem Amado deve se ver livre do ego. 
...as etapas que marcam a jornada do peregrino desde a morada de pó até a pátria celestial são consideradas sete. Alguns as têm denominado Sete Vales e outros, Sete Cidades. E dizem que, enquanto o peregrino não se livrar do ego e não percorrer essas etapas, jamais alcançará o oceano da proximidade e união, nem sorverá do vinho incomparável. Os sete Vales, Baha'u'llah

Com "se livrar do ego" para alcançar "o oceano da união" Baha'u'llah, em 1862, estava confirmando previamente aquilo que Sigmund Freud iria formalizar 68 anos mais tarde, em 1930. A unidade na diversidade é o Absoluto que todos devem partilhar, sendo necessário antes acabar com o egoísmo de cada pessoa, de cada sociedade e da civilização rumo a uma Nova Ordem Mundial. A fonte da religiosidade na pós-modernidade está na imanentização da Causa em torno de uma utopia quiliasta.


Para ilustrar essa questão usarei a canção "Ao Longe o Mar" do grupo português Madredeus (clique aqui).
Porto calmo de abrigo/De um futuro maior
Inda não está perdido/No presente temor
Não faz muito sentido/Já não esperar o melhor
Vem da névoa saindo/A promessa anterior
Quando avistei/Ao longe o mar
Ali fiquei/Parada a olhar
Sim, eu canto a vontade/Canto o teu despertar
E abraçando a saudade/Canto o tempo a passar

Nos versos da canção percebemos alguns elementos que envolvem a humanidade e a aceitação de seu cristo cósmico: a sensação de um presente temoroso (período de nascimento de uma era gloriosa próxima); a esperança de um futuro melhor como promessa (de mártires religiosos ou políticos) e o clamor pelo despertar do cristo cósmico, a mentalidade universal e unitária.

A ação de parar e observar o mar é uma ilustração do sentimento oceânico e da sensação de infinitude. Ao olhar a dimensão do mar ou até mesmo do céu nos sentimos pequenos e diminuídos. Nessa insignificância do ego (Eu) a comunhão plena com o Todo pode ser restabelecida. A besta emerge do mar, vem do profundo, sai do abismo, do desconhecido e infinito.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Comercial illuminaticamente surreal

De tanta simbologia iluminati existente no comercial, acredito que o vídeo seja um pastiche, ou seja, uma reprodução, colagem, em torno de uma simbologia que se tornou difusa, seja pela nossa sujeição massiva a essa pela indústria do entretenimento ou mesmo pela banalização das teorias da conspiração.



Acontece que o simples fato de aparecer uma pirâmide em um filme por exemplo não faz disso uma mensagem subliminar. Para que a seja, é necessário que aquela pirâmide queira primeiramente passar uma mensagem. Por esse motivo a simbologia iluminati virou tão banal. As pessoas conseguiam identificar os simbolo e não raciocinavam quanto ao conteúdo da mensagem que naquele momento estava desempenhando. É só lembrar da abertura do programa CQC com simbologia explicita e os apresentadores ao tentarem explicar.

De qualquer maneira há alguns pontos no comercial que eu achei interessante ressaltar. O primeiro está aos 22 segundo do vídeo, quando o personagem principal (que carrega uma imagem sua consigo) está ao lado de uma aeromoça com o uniforme cor púrpura. Ela é levada por uma águia. Logo depois a música solta "o futuro é melhor que o passado". Tudo isso me parece uma citação ao velho império mundial, ante NOM, condessada na representação dos Estados Unidos. A águia é um simbolo norte-americano, a cor púrpura é uma das cores, junto ao escarlate, da mulher que monta a besta.

Aos 35 segundos, aparecem nove vezes simultaneamente o personagem do comercial com um fundo galáctico. Logo depois ele se depara com duas portas, aliás, duplas têm aos montes no comercial (bipolaridade 6x9). A porta a qual as setas apontam é a de número 6. A que o personagem decide abrir ("decide" porque só tem duas opções e ele querendo ir contra "o sistema", por assim dizer, vai na outra) é a de número 7. Se contarmos a partir de moisés, das religiões mais importantes que ainda resistem, o manifestante de número 7 é o Bab, cujo nome significa "A Porta". Depois que os olhos são libertos, nada pode deter. N-A-D-A em quatro cavalos.

Seguir o coração foi levado ao pé da letra no comercial. "Siga-o [o coração] e você sempre chega em um lugar melhor" é um lema para a mentalidade revolucionária e a imanentização da causa. O coração é algo próprio do homem, ou seja, só o homem pode tornar este um lugar melhor, em algo de cair os queixos. Essa é a mensagem principal do vídeo a qual nem se precisou usar simbologia ocultista.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Para compreender o falso arrebatamento, a manifestação do cristo cósmico



Muitas pessoas "torcem o nariz" quando dão de cara com a ideia de um falso arrebatamento da igreja. E tudo isso por quê? Por esse ser talvez o episódio mais esperado por eles (em vida) e, portanto, não conseguem conviver com a ideia de que isso possa ser uma farsa. Quer dizer que o "arrebatamento" não irá acontecer? Se existe um "falso" é porque certamente há um que seja verdadeiro. Mas com certeza não nos mesmos moldes. Vamos dissecar este vídeo acima que eu mesmo fiz há um ano, para entendermos melhor.

O céu na terra

Primeiramente, devemos entender que ninguém há de desaparecer. O falso arrebatamento não vai simular a ida da igreja ao céu, essa experiência promete, na verdade, trazer o céu à terra. Vejamos que esse é um pedido cada vez mais constantes em "orações" e "louvores" do mundo pentecostal. Baha'u'llah, cujo significado do nome é "A Glória de Deus", utiliza as passagens em que Jesus se refere ao Espírito Santo, na Bíblia, para justificar que ele é aquele a quem Cristo se referia. O que o movimento gospel/pentecostal vem fazendo é confirmar isso através da imanentização do divino em torno do elemento "glória".


Espírito desça agora/Eu me aproximo de Tua glória
Tua glória venha o céu na terra, céu na terra
(trechos da canção Anseio, Diante do Trono)

O [neo]pentecostalismo é um dos responsáveis por tornar o Cristianismo cada vez mais em uma religião imanente, na qual o deus deve estar tão próximo ao homem que este deva "senti-lo" a todo o momento.

A Bíblia nos ensina a buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça (Ver: A verdadeira justiça dos santos). Para o mundo pentecostal, o Reino de Deus pode ser visto em espasmos, rodopios, glossolalia, gritarias, desmaios, entre outras coisas que para tais nada mais é do que a certificação da presença de Deus e do mover do espírito santo (Ver: Nomes de blasfêmias). Arrebatamento nesse caso nada mais é do que um estado de êxtase. Nesse sentido arrebatamentos acontecem todos os dias em igrejas que prometem experiências como as citadas acima, e as atribuem ao espírito santo.

Os mil anos

Outra coisa que deve ser levada em conta é que Satanás (A serpente) está sendo solto agora, no fim dos mil anos (período que simboliza o Reino de Deus, da ressurreição de Cristo à morte dos santos). Há um grave erro em acreditar que Satanás ainda será preso. Assim, se hoje já conhecemos o jargão "onde há o espírito, ali há liberdade" para "justificar biblicamente" todas as sandices de um culto carismático, tirando da cabeça do crente qualquer possibilidade de aquilo ali ser assemelhado a um culto umbandista, por exemplo, quem dirá quando tais acreditarem que Satanás foi preso... imagine o que será considerado "de Deus"!

O derramar do espírito sobre toda a carne é provavelmente a mais perigosa de todas as doutrinas pentecostalistas. Nessa, todos os que se encontram sobre a Terra seriam revestidos com o poder do espírito ante o início do "milênio" (Ver: O fogo consumidor)

As forças opostas Bahá'u'lláh x Shechinah

Não é necessário consultar o mistico para se compreender a ideia de êxtase por meio de duas forças opostas e complementares. Na análise de Nietzsche em A Origem da Tragédia, ele coloca a música como a criadora fundamental das forças antagônicas Apolo e Dionísio, e estaria relacionada ao gozo feminino além do fálico na psicanálise lacaniana.

A música, ou mais precisamente "o louvor", é a ferramenta mais eficaz da hipnose do mundo gospel. "O céu se une a terra como um beijo apaixonado" poderia ser levado em conta apenas como uma representação poética, se não fosse uma música gospel "dedicada a Deus".

Na Cabala esotérica, Shechinah é a essência do Ain Soph que, emanado, ficou preso ou enroscado em Malkuth, sendo correspondente à Deusa Kundalini Shakti na tradição esotérica oriental da Yoga. Segundo o livro cabalístico Zohar, a evolução do homem é o processo em que o pólo feminino do Divino (Shechinah), presente potencialmente na criação e no homem (Malkuth), se une ao pólo masculino da Divindade, Kether. Tal reunião é na tradição rosacruz representada pelas Núpcias Alquímicas de Christian Rosenkreutz, e na Bíblia está no livro O Cântico dos Cânticos de Salomão. Segundo a tradição da Cabala, a reunião dos dois pólos da Divindade resulta em uma Consciência Cósmica ou crística, de união do homem e do Divino, resultando no Homem-Deus (Deus imanente).
Leia mais: http://www.libertar.in/p/shekinah.html#ixzz2tQLAH1Lq

Shechinah corresponde à Sophia no gnosticismo, aquela que traz a iluminação, fogo. A mesma serpente do Éden que "vem abrir os olhos" (Gn 3:5). Shechinah vem trazer um elemento divino para libertar os homens da ignorância, a mesma ideia repassada pelo conto grego do titã Prometeu, que trouxe o fogo (até então privado aos deuses). Nas tradições esotéricas, esse fogo é reconhecido como o sexo - a nona esfera da vida. 

A Imanentização da escatologia através da iminência

Enquanto vemos pastores pregarem taxativamente contra a prostituição carnal, os mesmos estão servindo de cafetões para a prostituição espiritual de seus fiéis. As pessoas estão indo aos templos buscando o orgasmo cósmico, e tudo isso é por falta de fé. A expectativa do iminente (pode ser a qualquer momento) leva o cristão a buscar experiências intensas aproximadas, antes do tempo determinado. Esse é um grande problema do homem atual como um todo, e também a igreja que eclodiu nesse período: a imanentização escatológica. 


E o grande dia haverá de chegar

Quando eu e você, eu e você
Nos encontraremos com Ele
Naquele dia eu e você, eu e você
Cantaremos em uma só voz a Ele, a Ele, a Ele

(trecho da canção Vai Valer a Pena, Livres para Adorar)

Do "naquele dia" para "este dia" há um ou dois passos. Esse é um processo por qual todas as religiões tendem a passar, a imanentização em torno da ultima etapa da humanidade. De aquele para este, de ele para eu.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Globo aposta em novela com elementos gnósticos

Desde sua estréia, a novela global Além do Horizonte vem enfrentando problemas na audiência. Segundo a crítica o motivo dessa problemática estaria no enredo nada convencional para uma novela da emissora. O que a crítica chamou de enredo não convencional eu dou o nome de enredo gnóstico, os  traços de uma trama que envolve temática tipicamente gnóstica são bem fortes na estória da novela.

Alice

A começar pelo nome da personagem principal: Alice. Todas as "Alices" que vieram depois da famosa Alice de Lewis Caroll (Charles Dudgson) fazem alusão a esta, isso é uma afirmação confirmada por muitos (senão todos) que trabalham com análises de obras literárias e cinematográficas. E em uma obra televisiva não seria diferente.


O "País das Maravilhas" da Alice global nos mostra outra característica do enredo que não é apenas gnóstico, mas é o gnosticismo em sua forma atual no mundo pós-moderno. A Wonderland contemporânea é uma realidade construída pelo homem, que na novela é representada pelo desejo do Pai de Alice em buscar a "felicidade concreta" dentro de uma comunidade oculta à sociedade. E nisso encontramos mais um elemento gnóstico, tanto no contemporâneo como no da antiguidade tardia: a existência de alguns pneumáticos.

Os pneumáticos e o Existencialismo

O gnosticismo divide a humanidade em três categorias: hílicos, psíquicos e pneumáticos. Os Hílicos são os presos à matéria; na novela são todas as pessoas que se conformam em viver suas vidas comuns e buscam sua felicidade nesta. Os psíquicos são aqueles que buscam a redenção pela fé; na novela são todos aqueles que buscam a felicidade, mas a veem de uma maneira abstrata. E por fim encontramos os pneumáticos, estes são aqueles que estariam aptos a alcançarem a gnosis; na novela são aqueles pouquíssimos que buscam a felicidade concreta, que tentam mudar a realidade e dedicam suas vidas a isso. Essa última é a mesma característica da mente revolucionária.

O gnosticismo acredita que todos os pneumáticos são um dia despertados para começarem sua jornada rumo a libertação. Esse despertar é de responsabilidade da Deusa Sophia (Donzela dos Céus) no gnosticismo da antiguidade tardia, mas na pós-modernidade esse papel vem sendo desempenhado por algo ainda mais imanente ao ser humano: o Existencialismo. Nesse, a busca por atribuir sentido à vida do sujeito se dá a partir da sensação de confusão deste frente a uma realidade sem sentido e absurda. Através da crise de identidade e da dúvida sobre si mesmo o pneumático pós-moderno inicia sua busca rumo a salvação e quitação de todas essas dúvidas.

A epístola conservada

O autor da novela ilustrou esse despertar de consciência através de outra característica do gnosticismo contemporâneo, sobretudo dentro de um ambiente religioso, que é o retorno a um passado glorioso. Eu estou preparando uma outra postagem exclusivamente com esse tema, mas este é aquela sensação de que existiu uma época melhor do que a atual que é marcada pela presença de alguém, que para a religião é a presença de seu maior profeta. Essa é a ferida mortal de toda a religião: a morte de seu profeta. Mas eis que surge a possibilidade de recuperar a convivência com tal. Essa também é uma maneira de manipular a massa revolucionária, como Hitler fez através da propaganda do Terceiro Reich a partir de uma reestruturação civilizacional se baseando em uma glória dos império germânicos do passado.

A Alice da novela entra em sua crise existencialista após ter conhecimento de uma carta de seu pai que ela acreditava estar morto. Aqui fica impossível não traçarmos um paralelo com o advento de Baha'u'llah que se diz ser a volta de todos os profetas anteriores e escreveu epístolas a reis e sacerdotes de todo o globo. Mas sobre tais epístolas não se pode afirma nem que foram lidas por aqueles a quais foram destinadas. A mesma coisa aconteceu na novela, a leitura da carta foi preservada para um estágio de maturidade da personagem.

O mito da besta

Em um outro núcleo da novela, na cidade fictícia de Tapiré, corre entre os moradores a lenda de uma besta que ataca e mata suas vítimas. Sabe-se que a pessoa foi vítima da besta através de uma marca que essa deixa no corpo. Em uma análise gnóstica, a besta do apocalipse é a representação do ser ser humano que não tem controle sobre si. Lá, a besta de fato existe, e é o "dono" da cidade, Kléber. Ele é uma espécie de Demiurgo dentro de uma esfera menor, que tenta impedir a chegada do conhecimento (gnosis) trazido por Celina, a professora, que libertaria os moradores da opressão de Kléber. O nome Celina vem da palavra "céu" e pode ser uma alusão àquela que é vinda do céu: Sophia e a Rainha dos Céus. Aqui a besta é tratada apenas em seu estado bruto (666) de trevas, a besta age no blackout, quando não há luz (9). Ou seja, depois que a besta (666) for vencida, não há mais necessidade de se preocupar com ela, então afirmar que ela continuaria existindo em outra forma (999) seria persistir em uma lenda.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A REAL Plenitude dos Tempos segundo a Fé em Jesus Cristo

Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos. Gálatas 4:4-5
Como digo sempre: Aquele que espera pela implementação do Reino de Deus na Terra está muito atrasado. Cristo não virá uma segunda vez para fazer isso, porque ele já fez em sua primeira vinda. 

Você espera um tempo em que todas as pessoas sejam perfeitas e sem pecados? Pois esse tempo já existe desde que Cristo pagou o preço na cruz e nos libertou da lei do pecado e da morte. 

Você espera por um tempo em que as pessoas não mais morram e haja paz na terra? Esse tempo já existe desde que Cristo deixou sua paz conosco e nos deu a vida eterna por meio da Fé no Evangelho. Essa é a primeira ressurreição.

Você não crê que Cristo já fez tudo isso apenas por não ver com seus próprios olhos? Bendito são aqueles que não viram e creram, pois apenas não se manifestou aquilo que haveremos de ser.

Estamos adentrando o tempo de apostasia mencionado pelo Apóstolo Paulo em Segunda Tessalonicenses, no segundo capítulo, que é o cenário em que despontaria o filho da perdição. Este o qual a todos levantará com o anzol e os ajuntará em sua rede varredoura. Se me perguntarem qual a isca que seduzirá a todos, de crentes a incrédulos: a consumação da suprema paz, a era dourada e tantos outros termos adjetivos. De crenças religiosas com mais de 5.000 anos a religiões políticas ateístas do mundo pós-moderno, a promessa de levar seus adeptos àquilo que seria a Plenitude dos Tempos ou a Era Maravilhosa é o que une todos esses.

Essa "promessa" acaba exercendo a mesma influência que a Lei outrora realizava, ou seja, anula a Libertação trazida por Cristo (que é a nossa plenitude dos tempos, o ano aceitável do Senhor) sobre a vida da pessoa subjugada a essa utopia. "Cristo não conseguiu implantar" ou "Cristo implantou em partes" são máximas sempre presentes nas doutrinas daqueles que defendem o "Venha teu Reino na Terra como no Céu".




Entre todas essas doutrinas há um ponto de encontro, que ao meu ver é condensado na pessoa de Baha'u'llah. Une a Imanentização Escatológica das religiões políticas à Utopia Quiliástica das religiões milenaristas.
A Fé trazida por Bahá’u’lláh deve, em verdade ser considerada como a culminação de um ciclo, a etapa final em uma série de revelações sucessivas – preliminares e progressivas. Estas têm preparado o caminho, em antecipação – com sempre crescente ênfase – do advento daquele Dia dos Dias no qual Ele, a Promessa de Todas as Eras, haveria de se tornar manifesto. ...Desafia nossa imaginação a magnitude das potencialidades das quais foi dotada essa Fé, a qual não tem nem par nem semelhança na história espiritual do mundo, e que assinala a culminação de um ciclo profético universal. A fulgência da glória milenária que ela haverá de irradiar, na plenitude dos tempos, nos deslumbra os olhos. Shoghi Effendi - Chamado às Nações

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A mente revolucionária e o advento do prometido (2)

Na primeira parte apresentei alguns expoentes da mentalidade revolucionária que surgiram a partir do século XIX (século do advento de Baha'u'llah). Mas não seria justo parar por ai, pois todos os apresentados eram ateus e seguiam a linha metodológica materialista, com exceção (em parte) do teólogo da libertação Oscar Romero, e como escrevi aqui, a Fé Baha'i acredita que o problema do mundo (pelo menos os de base econômica) se dão devido "a visão materialista do mundo". A análise histórica feita por Baha'u'llah é de cunho espiritualista, oposta à materialista. Em sua análise ele afirma que a história da humanidade é moldada a partir da revelação de alguns manifestantes providos da parte de Deus.

Apesar dos personagens símbolos do movimento revolucionário adotarem uma visão cética a respeito da religião e também da figura de Deus, devemos entender que a rejeição é, na verdade, quanto a transcendentalidade destes. O neo ateu de hoje nega o Deus cristão porque esse "é um Deus que não faz nada para melhorar o mundo" e afirma que "Deus não ajuda o homem, o homem ajuda o homem". Ou seja, o que está sendo negada é a transcendência da divindade, colocando-a no âmbito da imanência. O Deus na mentalidade revolucionária é tão imanente que não o percebem.
Tão vasto é o seu alcance que abarcou todos os homens antes que disso eles se apercebessem. Dentro em breve, manifestar-se-ão sobre a face da terra e a sua força soberana, a sua influência penetrante e a grandeza do seu poder. Kitab-i-aqdas
O que desperta o revolucionário à ação? Todo revolucionário acredita que o motivo de sua luta um dia será concretizado, muito embora não esteja claro em sua mente o que é essa finalização da sua causa. Eis o elo de ligação entre a mente revolucionária e a Ordem Mundial de Baha'u'llah.

Para observar a mística que envolve o processo do despertar interno do ser revolucionário (algo parecido com auto-ajuda) lembremo-nos do Manifesto Wayseer.
O Caminho é uma força inteligente que pode guiar os nossos pensamentos e as nossas ações para a criação de um mundo melhor, com mais amor, verdade, beleza e graça. Página oficial do manifesto 

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

A mente revolucionária e o advento do prometido

"Acreditando que 'a paz mundial não é apenas possível, mas inevitável', os Bahá’ís encaram o futuro da humanidade de forma pragmática, envolvendo-se em projetos que permitem criar uma nova civilização mundial, baseada em princípios de justiça, prosperidade e progresso contínuo." (Página oficial dos Bahá'is de Portugal)
Humanismo, marxismo, niilismo, existencialismo, neo-ateísmo, positivismo, progressismo... Se a Fé Baha'i afirma que o surgimento de todos esses movimentos se deu pelo reboliço do advento de Baha'u'llah, o que devo pensar? A luz refletida por Baha'u'llah é o que acende a mente revolucionária?

cima (da esquerda para a direita): Che, Sartre, Gramsci, Romero, Nietzsche
baixo (da esquerda para a direita): Engels, Stalin, Lenin, Marx
Expoentes da mente revolucionária na política, literatura, sociologia e religião 

A "plenitude dos tempos"[1] é o conceito que move a mente revolucionária, a ideia de que a salvação da humanidade é imanente à própria humanidade, a ideia de que o progresso é inevitável e que "o rolo compressor da história há de nos testificar disso". Essa mentalidade é como a morte e não se farta, como achar que tais personalidades apresentadas acima por exemplo representam o fim de uma era [2], quando seus ideais persistem e avançam descomunalmente?

(Ver continuação)

Notas:
[1] Veja o que é a plenitude dos tempo para um cristão sincero, clique aqui
[2] J. E. Esslemont : Bahá'u'lláh e a Nova Era; "O Mundo em Transformação"

A economia não-materialista materialista da Ordem Mundial de Baha'u'llah

Fomos informados de que tu proibiste o tráfico de escravos, tanto de homens como de mulheres. Isso, em verdade, é o que Deus ordenou nesta Revelação maravilhosa. Deus, em verdade, te destinou uma recompensa por isso. Epístola de Baha'u'llah à Rainha Vitória
Já é do nosso conhecimento [1] que a Rainha Vitória, tal como o modelo de governo britânico, foi de muito agrado aos olhos do cristo cósmico Baha'u'llah. A iniciativa da mesma em proibir o tráfico de escravos (os chamados navios negreiros) teria sido pela própria inspiração da vinda desse mensageiro divino.

Um dos princípios sociais da Ordem Mundial de Baha'u'llah é a eliminação dos extremos de riqueza e pobreza. Não se sabe como e sequer se tem (pelo menos não publicamente) um modelo concreto de economia que seria capaz de eliminar tais extremos. O que a comunidade baha'i vem realizando são diálogos e discussões com o propósito de chegar a um consenso. Mas basicamente o que se têm em mente é que o que ocasionam os extremos de riqueza e pobreza é uma visão materialista do mundo [2]. Acabar com os extremos seria possível aplicando o princípio de uma economia divina - não materialista.

Acontece que a parcela (1% da população total) de mega-bilionários que concentram 50 porcento da renda (não esquecer que boa parte disso é capital especulativo) também estão preocupados em uma justiça econômica, tanto que patrocinam generosamente, quando aparece de tempos em tempos, movimentos radicais de esquerda para "ver se o trem da certo mesmo".

Em suma, vai partir do ponto de vista a "materialidade" do sistema. Enquanto Baha'u'llah viu com louvor a diplomacia britânica na luta pelo fim do tráfico negreiro, a História nos afirma que foi uma ação deliberadamente visando o lucro imediato, além do intuito cde criar uma nova classe de trabalhadores (os antigos escravos) que passariam, em um futuro, se tornar massa consumidora.
“os homens públicos da Grã-Bretanha puseram mãos à obra, fazendo o possível para liquidar com o tráfico negreiro, combate este que além de impedir a concorrência do nosso açúcar ao de sua produção nas Antilhas, tinha o mérito de lhe possibilitar fabulosos lucros ” (LEITE, 1998, p.16)


[1] http://apocalipsetotal.wordpress.com/2010/08/04/os-principios-sociais-da-nova-ordem-mundial-%E2%80%93-final/
[2] http://www.bahai.org.br/secext/arquivos/14-5-2012/BIC-Declaracao-CSD-50-fev-2012.pdf

sábado, 1 de fevereiro de 2014

O dia em que meu quarteirão gritou, e não era "Gol"

Era para lá das dez horas da noite quando escutei alguns gritos que pareciam sair de cada casa do quarteirão. Mas não havia jogo passando. Soube do que se tratava graças a alguns narradores de novela que tenho como amigos de facebook: o beijo gay. A cena por si só não foi grande coisa, não ganha nem do episódio em que os jogadores do Corinthians deram um selinho.

Mas a cena principal veio logo em seguida e essa eu consegui acompanhar, apesar de eu achar um desperdício de existência. O intuito era achar mensagens coincidentes para alimentar a minha paranoia de todo dia. E olha, os resultados foram excelentes.

A cena final consiste em pai e filho na areia da praia. O pai está a direita do filho (inversamente a DEUS e seu filho, O CRISTO) simbolizando a superioridade do filho (Félix - naquele momento, após a cena do beijo, não é outra coisa a não ser a personificação da "diversidade"). O pai (César - ditador, imperador, durão etc) cede ao amor (que lindo!), mas somente após a vista embaçada do alvorecer do dia.
85. Ó Imperador da Áustria! Aquele que é o Alvorecer da Luz de Deus (...) Abri vossos olhos, a fim de poderdes contemplar esta Visão gloriosa e reconhecer Aquele a Quem invocais durante o dia e a noite, e fitar a Luz que brilha deste Horizonte luminoso. Kitab-i-aqdas
As recorrências da linguagem simbólica usada por Baha'u'llah encontradas na cena da novela são vistas até por cego. A vista embaçada é pelo simples motivo: agora que estamos começando a enxergar a "era dessa revelação gloriosa" a qual Baha'u'llah falava em seus escritos. Esse é um trecho da epístola de Baha'u'llah enviada ao Imperador da Áustria, Franz Joseph I. Mas quem era responsável pelas relações exteriores do império era o primeiro ministro, seu filho, o príncipe Félix de Schwarzenberg.

Franz Joseph I
Félix zu Schwarzenberg
A respeito daqueles que não volverem suas faces ao reconhecimento dessa revelação e o tumulto que estamos vivenciando por esses dias (os parágrafos são meus)
A terra foi sacudida (...) A maioria do povo está confusa em sua embriagues e mostram eles em suas faces evidências de ira. (Aos que nos acusam de homofobia estamos repletos de ira) Assim, fizemos reunirem-se os perversos. (a mídia, como já disse outras vezes, mais que a doutrinação, é responsável por levar ao extremo de opinião. Desta forma, aqueles irados do início são reunidos) (...) Eles os vêm e ainda assim não os reconhecem. Seus olhos estão ébrios; eles são, na verdade, um povo cego.   
Dize: - Os céus foram dobrados e a terra está em Sua Mão. Os corruptos foram apanhados por seus topetes, e ainda assim não compreendem. Bebem da água contaminada e não o sabem. (Água sempre tem uma conotação de ensinamento, palavra, "fonte da revelação", nesse contexto a água contaminada seria a revelação de um manifestante que pelo passar do tempo acabou se contaminando e não mais reflete a pureza inicial, sendo necessário renovar a fonte, se atualizar quanto aos ensinamentos. O que Baha'u'llah escreve em seguida comprova essa tendência) (...) Os versículos de Deus foram revelados, e ainda assim se afastam deles. Sua prova foi manifesta, e, no entanto, eles a ignoram. De "A proclamação de Baha'u'llah"

Essa não é a primeira vez que coincidências com nomes de figuras importantes na história da fé baha'i aparecem em novelas da Globo. Na novela que antecedeu essa, o personagem que ajudou a protagonista a fugir do cárcere a qual estava vivendo na Turquia se chamava Mustafá. É o mesmo nome do líder revolucionário que ajudou a derrubar o Império Otomano e instituir a república da Turquia, liberando assim alguns prisioneiros do cárcere que o Império mantinha, entre eles Abdu'l-bahá, o qual, depois disso, iniciou suas palestras na América e Europa.
Tudo o que podemos razoavelmente aventurar-nos a empreender é esforçamo-nos por obter um pálido vislumbre dos primeiros traços da prometida Aurora, a qual, na plenitude dos tempos, há de dissipar as trevas que envolvem a humanidade. Tudo o que podemos fazer é assinalarmos, em seu mais amplo esboço, o que nos parecem ser os princípios norteadores que alicerçam a Ordem Mundial de Bahá’u’lláh. Shogui Effendi